Querido Diário,
7 março, 1916 (Norte de França)
7 março, 1916 (Norte de França)
Hoje de manhã,
cheguei ao Hospital numa das linhas da retaguarda. Vim com mais duas
enfermeiras. Uma chama-se Katherine e é inglesa; e a outra é a Nicole, vinda de
França.
Este dia foi para
as normais apresentações perante os médicos e ainda a mais alguns enfermeiros.
Agora estou
sentada na minha cama, no meu quarto, partilhado com as minhas duas
companheiras de serviço.
Amanhã, irei
escrever-te para te contar o meu primeiro dia de atividade.
Olá Diário,
8 março, 1916 (Norte de França)
8 março, 1916 (Norte de França)
Hoje, foi um dia
bastante agitado.
Tive que coser 3
cabeças, engessar 2 braços e desinfetar inúmeras feridas infetadas. No entanto,
o meu dia de serviço ainda não acabou, vou estar de serviço com a Nicole e
Katherine.
A minha mini
pausa acabou, tenho que ir. Espero voltar a escrever-te em breve.
Meu querido confidente,
12 abril, 1916 (Norte de França)
12 abril, 1916 (Norte de França)
Desculpa por não
te ter escrito antes. Têm surgido problemas com o uso de gases tóxicos e,
agora, tenho muitos militares a enlouquecer e a ficarem doentes.
Só tenho um
soldado que está gravemente ferido sem ser desta maldita invenção. O seu nome é
Mike e é inglês, tem olhos castanhos assim como o cabelo e tem 3 costelas
partidas e um corte profundo na perna esquerda, devido a uma queda. Mas mantém
sempre o espírito aberto com um humor inesgotável, tendo em conta que os
militares são bastante sérios e quase nunca mostram o seu lado mais sensível e
divertido. Já nos conhecemos há 2 dias.
Lamento por não
escrever mais mas tenho que ir descansar enquanto posso.
Querido Diário,
18 maio, 1916 (Norte de França)
18 maio, 1916 (Norte de França)
Já não te escrevo
há algum tempo…
Por aqui, o Mike
já está bom e já está a combater, no entanto, cada vez mais há militares
doentes, feridos e mortos. Infelizmente,
tenho que voltar, hoje foi dia de pouca escrita porque tenho mesmo de ajudar
quem precisa de mim.
Amanhã vou tentar
escrever-te.
Olá Diário,
23 maio, 1916 (Norte de França)
23 maio, 1916 (Norte de França)
São 23h e 47 e
tenho muitas novidades para te contar.
Hoje, o Mike
trouxe-me um amigo seu gaseado. O seu nome é Eduardo Paulo e é português.
Prometi ao Mike
que iria cuidar do Eduardo. Ficámos a conversar até que ele foi chamado pelo
coronel.
Voltei à
enfermaria bastante feliz. Talvez tivesse sido o momento mais agradável que
tive naquele triste Hospital.
Infelizmente,
tenho que ir.
Querido confidente,
10 junho, 1916 (Norte de França)
10 junho, 1916 (Norte de França)
Fui infectada por
uma doença devido a um militar todo mordiscado por um rato, a 24 de maio. É por
isso que nunca mais te escrevi.
Desse dia, só me
lembro de ver esse paciente cheio de buracos sangrentos com marcas de dentadas,
marcas de patas em forma de arranhões profundos. E dei por mim deitada na minha
cama a arder em febre.
Desde ai tenho estado a recuperar. E todos os dias de folga o Mike me vem
ver.
Só espero ficar
melhor, não gosto de estar deitada sem fazer nada, enquanto outras pessoas
precisam da minha ajuda.
Tenho uma visita.
Amanhã, contar-te-ei as novidades.
Querido companheiro,
1 julho, 1916 (Norte de França)
1 julho, 1916 (Norte de França)
Hoje, por volta
do meio-dia, poderei recomeçar o meu trabalho. Nem imaginas a felicidade que
estou a sentir…
Para recomeçar
bem o meu trabalho já me vieram entregar, em mãos, alguns relatórios de
feridos, de quem vou tratar e tomar conta.
Bem, vou ler os
relatórios. Escreverei assim que puder.
Olá Diário,
2 julho,1916 (Norte de França)
2 julho,1916 (Norte de França)
Infelizmente,
trago-te más notícias. O amigo português do Mike, o Eduardo, morreu hoje ao
meio-dia. Já estava bastante doente, e nem os médicos sabiam o que fazer…
Não sei como é
que vou contar isto ao Mike, amanhã. Ele vai ficar destroçado. Eu ficaria…
Querido Diário,
8 julho,1916 (Norte de França)
8 julho,1916 (Norte de França)
Hoje pedi que me
transferissem de volta a Portugal. Já não quero estar mais aqui, o meu trabalho
é importante, mas irão substituir-me.
Fora deste edifício,
está a decorrer uma guerra mortífera que não vale a pena, muitos militares
estão mortos ou feridos gravemente. Nas trincheiras há ratazanas “devoradoras”
de cadáveres, torturadoras dos mais frágeis, gases capazes de matar milhares de
pessoas, tiroteios intermináveis durante todo o dia. Aqui, todos estão sempre
de coração nas mãos, na esperança de não serem mortos a lutar por várias
pátrias de uma vez só. Isto é um ambiente miserável.
Eu não quero
continuar aqui, não aguento mais tempo.
Só quero ir para
casa.
Já avisei todos
que me quero ir embora, incluindo o Mike, a Katherine e a Nicole.
Querido confidente,
9 julho,1916 (Norte de França)
9 julho,1916 (Norte de França)
Estou com bastantes dúvidas se devo ir ou não. Se ficar, cuidarei de
militares, salvarei vidas, mas, por outro lado, penso que estou a começar a
enlouquecer com aquilo com que lido todos os dias. Ainda não sei se fiz bem ou
mal em pedir para sair daqui, porque isso implica abdicar do meu melhor amigo e
de duas grandes amizades que aqui criei. Penso que isto requer uma enorme
reflexão, mas já não posso votar atrás no pedido.
15
julho, 1916 (Norte de França)
Hoje, vieram-me
informar que não poderei sair assim tão facilmente. Para eu sair a guerra teria
que acabar, ou eu teria que acabar o ano com os meus serviços de enfermeira.
Por um lado, até
estou feliz ….
Estou bastante
ansiosa para contar a novidade ao Mike, dia 17.
Querido Diário,
14 setembro,1916 (Norte de França)
14 setembro,1916 (Norte de França)
Teresa Duarte
Sem comentários:
Enviar um comentário