26 de Dezembro de 1914
Amigo Diário
Muita coisa mudou desde
que escrevi aquele primeiro texto. Já não me considero um jovem entusiasta,
ingénuo. Mantenho o entusiasmo em proteger o meu país, mas o país ficou
bastante abalado com a invasão dos alemães que praticamente chegaram a Paris.
Graças a Deus que os ingleses nos ajudaram.
A guerra chegou a um
impasse. Ambos os lados assumiram posições defensivas e começaram a escavar
fossos, aos quais chamamos trincheiras. As condições pioram de dia para dia,
devido à falta de alimentos e apenas chegam à frente de batalha alimentos de
conserva.
Mas, guardei o melhor para o
fim . Anteontem e ontem, na véspera e no dia de Natal, ambos os lados
confraternizaram. Sim, confraternizaram.
Pensávamos que, pelo Natal, já estava tudo decidido, mas não. E não
parece que esteja para breve o final.
Anteontem, ouvimos rumores de que tréguas tinham sido feitas por ambos
os lados, começando em Ypres, na Bélgica, mas tínhamos receio de que fosse uma armadilha
alemã. Começámos a cantar músicas natalícias e, do outro lado, logo nos
começaram a imitar, apenas mudando a letra. Foi um momento especial, mas não
ficou por aí. Um soldado alemão veio à terra de ninguém, dizendo, num francês
macarrónico , que queriam tréguas. Então, na temida terra de ninguém, houve
convívio e até troca de objetos das duas partes. Posso dizer que, para mim, foi uma boa mudança, como uma
lufada de ar fresco. Estas tréguas mantiveram-se até ontem; porém, hoje, a
tensão recomeçou.
Bernardo Alves
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