segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Memórias imaginadas... de Margarida Rodrigues

30 de Abril de 1918

Algures em França,
Terminou ontem uma das batalhas mais mortíferas, até agora. Descobri hoje pelos meus camaradas que se chamou batalha de La Lys.
Quase ainda nem consigo abrir os olhos com medo de enfrentar e de rever as imagens dos últimos 20 dias... foi atroz... um enorme banho de sangue e o meu amigo, o meu camarada Zé António, perdeu a vida no dia 17. Pela primeira vez nesta guerra senti-me sem forças para prosseguir.
Era suposto sermos rendidos no dia 8, no dia anterior ao começo deste enorme prélio, que deitou por terra, provavelmente, mais de 500 homens valentes da nossa nação.
Acordo todas as noites debaixo de fogo a chorar incessantemente com os nervos à flor da pele, soluçando como uma criança, sonhando com os homens derramados por estes campos ensanguentados. A guerra está a deteriorar o meu foro psicológico, estou sem moral, sinto-me morto mesmo estando vivo.
Não gosto do que vejo, fico arrepiado com as explosões de granadas que rompem as trincheiras e os céus , porém todas as pátrias têm sido solidárias e  a entreajuda reina nos escassos tempos de paz! É bom ver campas dos nossos homens em dialetos estrangeiros, acima de tudo a humildade ainda não desvaneceu, porque nós todos sofremos por igual e os sentimentos de medo e trauma por todos são partilhados.

Até um dia...
Margarida Rodrigues

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